Yumping França teve a oportunidade de conhecer Juan Tuñon, um ciclista espanhol que percorreu a Pan-americana de bicicleta. Partiu de Ushuaia, a cidade mais a sul da Argentina na América do Sul, até chegar a Prudhoe Bay, no Alasca.

 The Panamerician


No papel, foram mais de 27.500 km percorridos em 20 meses. Na prática, foram infinitas experiências e histórias que, depois de o terem emocionado a ele, também nos tocaram a nós. Na sua aldeia, chamam-lhe "o ciclista mais feliz do mundo". Esta é a sua história:

Juan Tuñon e sua bicicleta


Yumping França - Como avalias a experiência que viveste ao percorrer a rota pan-americana?
Juan Tuñon - Há tanto para dizer sobre esta viagem... o que mais me marcou foi a ajuda das pessoas, o carinho que recebi e como foi fácil viajar através de diferentes culturas. Foi uma viagem maravilhosa.

Y.F. - Como começaste a fazer rotas de bicicleta?
J.T. - Comecei com o Caminho de Santiago, desde Roncesvalles. Depois, de Sevilha ao Finistère, e depois de Amesterdão até ao Finistère.

Y.F. - E, voltando à Pan-americana, dizes que te pareceu fácil?
J.T. - Sim. No geral, sim. Se quiser lembrar-me dos momentos difíceis, consigo encontrá-los. Por exemplo, no início, na Patagónia, sofri. Os ventos eram muito fortes e batiam-me de frente! Por isso, normalmente as pessoas fazem este percurso de norte a sul. Eu fiz de sul a norte. Lembro-me de ter sofrido mesmo durante dias, sem conseguir abafar o som do vento nos ouvidos, nem mesmo com música. Esses dias foram duros!

Y.F. - Estiveste sozinho?
J.T. - Parte da viagem fiz com um sueco, e outra parte sozinho. Mas nunca se está completamente sozinho. Sempre se conhece alguém. Eu tenho uma bicicleta grande, por isso chama a atenção... as pessoas perguntam de onde vens, se precisas de algo. Nunca me senti sozinho! Se te sentires sozinho, podes sempre encontrar alguém.

 Juan Tuñon no Pan American


Y.F. - Dormiste em casas de locais?
J.T. - Claro! A experiência que ganhas muda-te por completo. Deixar-se ajudar é uma arte. Quando acordas de manhã e as pessoas que te alojaram te recebem com um grande sorriso, mesmo que só tenham deixado montar a tenda no jardim, sentes que foste tu que recebeste o favor.

Y.F. - Tiveste medo em algum momento?
J.T. - Não.

Y.F. - Enfrentaste o terramoto no Chile, no meio da noite. Nem mesmo nesse momento sentiste medo?
J.T. - Não, porque acordei. Foi a 27 de fevereiro. Estava numa pequena aldeia de pescadores, num parque de campismo junto à praia, debaixo de uma árvore. A terra começou a tremer por volta das 3 da manhã. No primeiro segundo, pensei que era parte do meu sonho. No segundo, vi a árvore a tremer e perguntei-me quem a estava a sacudir. No terceiro segundo, pensei: "Põe as calças e corre." Apanhei a mochila com o computador e deixei tudo para trás: roupa, tenda, bicicleta... tudo!

No Chile, têm um protocolo: sobem para as montanhas para evitar a onda, caso o terramoto venha do mar. De noite, não vimos a onda, mas ouvimo-la, ouviam-se os gritos das pessoas... No dia seguinte, quando desci para procurar a minha bicicleta, em vão, vi o desastre... carros em cima dos telhados, milhares de peixes mortos...

Levaram-me para Santiago do Chile, renovei o passaporte, uma empresa de bicicletas ofereceu-me uma nova quando soube da minha história, totalmente gratuita... Os chilenos portaram-se maravilhosamente bem.

Y.F. - Depois do que aconteceu no Chile, não pensaste em desistir?
J.T. - Não. Pensei que tinha de terminar a viagem. Mesmo sem saber como, disse a mim mesmo: comecei, vou terminar.

Y.F. - Como financiaste a viagem? Tens patrocinadores?
J.T. - Não, usei as minhas poupanças. Tinha calculado gastar cerca de 10 € por dia. Não é fácil arranjar patrocinadores. Contactei grandes marcas de tendas, câmaras... enviei informações e pedidos por e-mail, mas certamente foram para o lixo. Desisti de procurar patrocínios.

Y.F. - E agora estás a planear a Rota da Seda, é daqui a três semanas?
J.T. - Sim, há duas rotas possíveis. Penso passar pelo Irão, Paquistão, Índia, Myanmar e China. Dependendo da validade dos vistos e das estações, é preciso calcular bem o percurso...
Planeio fazê-lo num ano. De Avilés (Espanha) até Xangai, são aproximadamente 18.000 km, mas como vou pelo sul, será um pouco mais.

 A bicicleta de Juan Tuñon


Y.F. - Vais passar por França?
J.T. - Sim, pela Costa Azul! E pela costa grega... adoro o mar!

Y.F. - A bicicleta vicia mesmo! Mas o que fizeste é enorme!
J.T. - É preciso alguma coragem, mas muito menos do que as pessoas imaginam. Mesmo quando chove, sei que vou dormir seco na minha tenda e que o sol acabará por nascer. Além disso, estás a fazer algo que te realiza! Pedalas de 4 a 9 horas por dia, mas se gostas, não é um esforço, é um prazer. Não me considero um atleta.

Y.F. - Obrigado, Juan! Boa viagem!

Uma aventura excecional, realizada por um homem excecional, que continuará a sua jornada pelo mundo, descobrindo os outros e a si mesmo.


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