
O salto BASE é um desporto semelhante ao paraquedismo, mas com a particularidade de o salto ser feito a partir de uma base fixa sem velocidade inicial, aterrando com a ajuda de um paraquedas especial, diferente do utilizado na prática de paraquedismo desportivo. Assim, as siglas B.A.S.E. referem-se aos quatro tipos de objetos fixos dos quais se pode saltar: Building (Edifícios), Antenna (Antenas), Span (Ponte), Earth (Penhasco). O nascimento do salto BASE moderno foi em 1978 através de Carl Boenish. Quem melhor nos pode informar sobre este desporto é Richi Navarro, a quem fizemos uma entrevista onde nos conta todos os detalhes sobre esta modalidade.
Yumping.- Olá Ricardo. Obrigado por aceitares esta entrevista 8 anos depois. Recordamos as tuas origens para os leitores: Quando nasceu a tua paixão por saltar?
Ricardo Navarro.- Desde muito pequeno sonhava/jogava a voar como os pássaros, o Super-Homem... hahahaha. O meu irmão mais velho fez o serviço militar nos paraquedistas (eu teria uns 12 anos...) e fascinava-me o que me contava e as fotos que me mostrava. Depois, a minha paixão pela montanha e o sonho de voar fundiram-se na escalada... sempre com o olhar atento do alto para o vazio e a invejar as aves...
Y.- Que conselho darias às pessoas que queiram iniciar-se no salto BASE?
R.N.- Que não o façam, que pensem muito bem... que pensem na família, parceiro/a, amigos... não é um desporto como tal. Há muito em jogo, tudo o que te dá pode ser tirado em décimas de segundo. E se mesmo assim quiserem iniciar-se, que o façam sem pressa, com paciência, rodeados de bons mentores, deixando-se aconselhar com humildade e sem ego...

Y.- Conta-nos alguma anedota a saltar em BASE...
R.N.- Anedotas como tal não saberia o que te dizer... cada salto, viagem, projeto é um mundo, talvez esquecermo-nos das chaves do carro de regresso no carro de início do percurso e ter de fazer muitos quilómetros a mais para recuperar o carro de início... não me aconteceu apenas uma vez...(risos)
Y.- Qual foi o teu melhor salto?
R.N.- Talvez onde mais disfrutei foi nas Dolomitas italianas, voando com o fato de asas desde o Monte Civetta, com mais de 3.000m de altura, ou desde Dent de Crolles, Grenoble (França)... são voos muito bonitos.
Y.- Algum lugar onde queiras saltar e ainda não o tenhas feito?
R.N.- Gostaria de fazer o salto do Anjo, Venezuela, 1000m de cascata num ambiente incrível. Já em 2009 estive a preparar o projeto para ir, mas por falta de orçamento e tempo devido às oposições que estava a preparar, ficou nisso... um projeto. Não descarto ir em breve.
Y.- Como te preparas para realizar um salto?
R.N.- Desde a chamada aos amigos, decidir consoante a motivação e meteorologia o local, preparar o equipamento para o salto em concreto, reunir com os amigos no local e dia planeados... e como preparação antes do instante do salto, cada um tem os seus costumes, mas é verdade que coincidimos nas verificações do equipamento. A partir do momento em que se está equipado e pronto para saltar, os "rituais" são pessoais. Eu costumo visualizar o salto, praticar correções de alguma avaria que possa ocorrer... respirar fundo e disfrutar...
Y.- Como te definirias?
R.N.- Isto devíamos perguntar às pessoas do meu entorno, mas definir-me-ia como uma pessoa tranquila, paciente, amigo dos meus amigos, gosto de superar os meus próprios desafios... mas poderia resumi-lo com uma frase que tenho tatuada num pé. "Live like you will die today" Vive como se morresses hoje... Disfrutar da vida que são dois dias.
Y.- O que pensam os teus familiares e amigos de praticares este desporto?
R.N.- Já estão habituados, no início com medo, mas sabem que realmente me faz feliz e aceitam. Tenho a grande sorte de ter uma pequena grande família de salto BASE.
Y.- O que é a última coisa que pensas antes de saltar?
R.N.- Não saberia o que responder... mesmo antes talvez em nada, acho que fico num estado de abertura sensorial máxima para poder disfrutar e processar tudo o que vou perceber em instantes.
Y.- Lembras-te de como foi o teu primeiro salto?
R.N.- Sim, foi de uma ponte em França... uma autêntica explosão de felicidade.

Y.- Como te iniciaste neste desporto?
R.N.- Como a maioria dos saltadores, iniciei-me no paraquedismo desportivo e pouco depois no salto BASE, aprendendo com companheiros que se tinham iniciado antes de mim.
Y.- Quem te impulsionou a começar?
R.N.- Não há um quem mas um quê... mas um detonante foi uma cena do filme Máximo Risco onde dois jovens saltavam de Yosemite... Eu queria descer assim também de uma montanha...hahahaha
Y.- Como te surgiu a ideia de fazer o duplo salto desde um parapente biplace suspenso de um balão?
R.N.- Na verdade, junto com a minha irmãzinha Ceci, só fomos os paraquedistas nesse projeto. Foi ideia do meu amigo Miguel Monllau de Als Nuvols. Ele, junto com Alberto Martín, ambos pilotos profissionais de parapente/paramotor, conceberam tal loucura com a ajuda de Angel Aguirre da Globus Kontiki.

Y.- Quais são os teus objetivos para os próximos anos?
R.N.- A nível desportivo vou fazendo conforme a motivação ou oportunidades...(risos)
Y.- Qual é o próximo salto que estás a pensar fazer?
R.N.- Pois depende da meteorologia, salto por aqui ou por ali... não há um em concreto. O que eu ou outros propuserem, conforme a situação...(risos)
Y.- Desejamos-te muita sorte. Muito obrigado pela tua amabilidade.
R.N.- Um prazer. Até à próxima.