Mas antes de mais, queremos recordar que hoje se completam 4 anos do falecimento de Darío Barrio, chefe de cozinha e saltador BASE (que em paz descanse), a quem entrevistámos há alguns anos. Podes recuperar a entrevista aqui.

Yumping.- Carlos, como nasceu a tua paixão por saltar?
Carlos Pedro Briceño.-Desde pequeno, sempre me chamou a atenção voar. Basicamente, vendo os desenhos animados do Super-Homem e desses super-heróis que voavam.
Y.- Lembras-te qual foi o teu primeiro salto de paraquedas?
C.P.B.- Foi a 19 de Junho de 1999, numa pequena zona de salto "A Escola de Paraquedismo Cliff" numa localidade chamada San Juan de los Morros, a 2 horas e meia de Caracas, a capital da Venezuela. Fomos vários amigos, dos quais poucos ainda saltam. Foi bastante intenso, pois era preciso pendurar-se da asa de um avião Cessna 185 e soltar-se quando o instrutor desse a ordem. O instrutor abria o paraquedas logo que te soltavas.

Y.- Qual foi o momento em que decidiste passar-te para o salto BASE?
C.P.B.- Quando já tinha cerca de 800 saltos de avião, nessa altura tinha um programa de TV sobre desportos radicais e fiz um salto como parte de um dos episódios. Foi de uma ponte de 70 metros perto do aeroporto internacional de Caracas, Venezuela. Depois do salto, fiquei encantado com a sensação e a adrenalina que me deu.
Y.- Para o caso de haver algum distraído entre os nossos aventureiros, podes explicar com palavras o que é o salto BASE?
C.P.B.- Saltos BASE são saltos de estruturas fixas. A palavra B.A.S.E. é um acrónimo que significa B. Building (edifício) A. Antena S. Spans (pontes) E. Earth (penhascos, montanhas)

Y.- Sei que é difícil transmitir-nos o que sentes cada vez que saltas, mas podes ajudar-nos a fazer uma ideia?
C.P.B.- Quando salto, faço-o porque a sensação de poder voar a partir de uma estrutura fixa é incrível, esse sentimento de paz no momento em que os pés descolam do objeto do qual estás a saltar é único, e depois a aceleração do corpo em queda livre é muito rápida e intensa.
Y.- O que te passa pela cabeça cada vez que saltas?
C.P.B.- Quando salto, estou a viver no presente, não há pensamentos diferentes do que está a acontecer naquele preciso momento. Sempre sinto esse medo que faz parte do ritual e que é importante, pois mantém-te atento a todos os detalhes de segurança. O medo mantém-te vivo, o pânico mata-te.

Y.- Nos desportos radicais há um tema que está sempre presente, o da insegurança... Quão seguro ou inseguro consideras que é o salto BASE?
C.P.B.- O salto BASE é um desporto que, ao contrário de outros, qualquer acidente é bastante sério ou pode causar a morte. Mas se for feito com consciência e seguindo todos os parâmetros de segurança, como condições meteorológicas ideais, equipamento adequado e sem inventar algo que não sabes se é possível e cujas probabilidades de correr bem são poucas, o desporto é bastante seguro, como qualquer outro desporto radical. Todo o desporto tem o seu grau de dificuldade e risco, e cabe a cada um fazê-lo da maneira mais segura possível.
Y.- Como explicarias a alguém que está totalmente fora deste mundo que vale a pena correr o risco em cada salto?
C.P.B.- Acho que não podes convencer ninguém a correr um risco, tem de ser por vontade própria. Se a pessoa estiver realmente interessada e mostrar muito interesse, explicaria-lhe o quão seguro pode ser o desporto e o quão gratificante é, pois faz-te sentir 100% vivo.

Y.- Como conseguiste chegar a fazer parte da Elite do BASE jump a nível mundial? E o que significa pertencer a ela?
C.P.B.- Não me considero parte de uma Elite, considero que faço parte de um desporto que é bastante pequeno comparado com a maioria e ser popular deve-se a teres estado vários anos a praticá-lo.
Y.- Gostaríamos de saber como é que um saltador BASE se cuida e treina.
C.P.B.- Na verdade, o salto BASE não requer uma condição física específica, mas é ideal estar sempre em boa forma física, pois se queres voar das montanhas, tens de as subir a pé e, se não estiveres treinado, a travessia pode tornar-se um pesadelo. Eu sempre fui desportista e mantive-me sempre ativo.
Y.- Qual é o sítio onde mais gostaste de saltar?
C.P.B.- Todos os Alpes na Europa são incríveis, os Fiordes na Noruega também, mas um lugar que é único e muito especial para mim é, sem dúvida, o Salto Angel na Venezuela.
Y.- Onde adorarias poder saltar?
C.P.B.- Há muitos, mas um que te posso dizer agora é o Yosemite Park na Califórnia.
Y.- Praticas ou gostas de algum outro desporto de aventura?
C.P.B.- Já pratiquei muitos desportos, pois adoro todos. Entre eles, surf, kite surf, bicicleta de montanha, escalada em rocha, escalada de alta montanha, fiz triatlos, corridas de aventura... etc.
Y.- Que desporto que nunca fizeste gostarias de experimentar?
C.P.B.- Ainda não fiz speedfly, mas este verão acho que vou experimentar pela primeira vez.

Y.- De 1 a 10, em que nível situarias a adrenalina na tua vida?
C.P.B.- Suponho que perto do 10.
Y.- Qual é o teu próximo desafio?
C.P.B.- O desafio é continuar a disfrutar do que faço e poder viver disso.
Y.- Qual é o lugar que te conquistou?
C.P.B.- Praticamente todos os lugares que têm montanhas são os meus favoritos.

Y.- Já saltaste em Espanha? Em caso afirmativo, onde? Em caso negativo, onde gostarias?
C.P.B.- Sim, já saltei em Benidorm várias vezes para competir e fiquei em 4º lugar, já saltei em Riglos e em Montserrat várias vezes, de facto fui o primeiro a fazer uma linha de proximidade.
Y.- Recomendarias aos teus familiares e amigos que praticassem salto BASE?
C.P.B.- Claro que sim, mas o salto BASE é para pessoas que realmente nasceram para isso, ninguém que meio que duvide se gosta vai acabar por gostar, é muito intenso.
Y.- Como gostarias que te recordassem no salto BASE?
C.P.B.- Como alguém que o disfrutou muito e o fez de maneira inteligente e segura.